Gaúcho!!! Tradição? Contradição? Ou traição aos valores culturais?

Esse texto visa esclarecer algumas duvidas com relação a cultura gaúcha. Inicialmente há de se questionar que tradição segue. Trabalharemos com a hipótese das tradições diferenciadas, sendo o gaúcho sul rio grandense, o gaúcho argentino e uruguaio.
Nem tudo que se lê na internet tem veracidade, por isso é necessário debates e confronto de informações para que se consiga chegar o mais próximo da verdade.
Essa contradição ou falta de interesse pelas tradições levam alguns gaúchos a inventarem modas impulsionados pelo capitalismo que quer de toda maneira globalizar as culturas para ganhar mercado. Esse interesse capitalistas de alguns desvirtuam as culturas descaracterizando-as e confundindo o uso e apegos de uma e outra cultura.
“Gaúcho” na origem da palavra – Homem do campo geralmente com vida humilde extremamente hábil na lida com cavalos e com o gado. Essa habilidade com os cavalos levaram os gaúchos a muitas guerras, por isso ficaram conhecidos como homens valentes e corajosos. Viviam nos pampas da Argentina e Uruguai, em seu estilo de vida já eram presentes partes da indumentária e da musica hoje inserida na cultura regionalizada no Brasil ao povo sul rio grandense extensivamente ao restante do sul.
Alguns homens que lutavam por liberdade, igualdade e humanidade foram mandados para onde hoje é o Rio Grande do Sul como forma de exílio e lá eram chamados pejorativamente de “gaúchos” aja visto que para monarquia, gaúcho era sujeito sem valor. Esse termo pejorativo mais tarde se torna orgulho e é adotado pelo povo como gentílico de quem nasce no Rio Grande do Sul.
“Gaúcho” no Termo Cultural – Com o passar dos anos os costumes deste povo passa a ser contemplado virando assim uma cultura de proporções gigantescas. Alem desta cultura ser exaltada no Rio Grande do Sul os “gaúchos” que migravam para outras regiões, seja do país ou fora dele, geralmente desgarravam de sua terra para desbravar novos horizontes e enriqueciam também estes novos “pagos” com seu trabalho e com sua cultura, disseminando seu modo de vida pastoril e o amor a sua terra, bem como seus valores culturais.
Assim nasce e cresce a Cultura gaúcha e mesmo aquele que não lida com cavalos e mesmo quem não nasceu no Rio Grande do Sul, exalta o orgulho de ser, mesmo que culturalmente, um gaúcho.

Esse termo cultural é deferido àqueles que de alguma forma mantém costumes dos dois termos acima. Diz-se que gaúcho pode ser qualquer pessoa que se identifique com essa cultura, qualquer um que a respeite, que tome seu mate, que ouça suas musicas regionais, que tenha orgulho de se pilchar ou que esteja interligado com algo relacionado ao contexto todo.

Quando se fala de tradicionalismo, lembramos de regras impostas pelo órgão que nasceu para defesa dos costumes de um povo. Esse órgão visa preservar tudo que faz parte dessa cultura “regionalizada” no Rio Grande do Sul. Friso regionalizada, porque não são aceitos como “tradição” costumes e até indumentárias da cultura gaúcha argentina, por exemplo. A preservação se faz em cima do regionalismo, ou seja, da historia da cultura caracterizada pelo sul rio grandense, povo que recebeu a maior influencia de paises como Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Venezuela, dentre outros. Falando culturalmente, da mãe Argentina vieram os traços mais fortes tendo o pai Brasil, surgiu o filho Rio Grande do Sul tendo por irmãos o Paraná e Santa Catarina e outros filhos adotivos. Mas estes filhos tem hoje sua própria historia, de glórias e conquistas, de arte e de cultura e é isso que precisamos defender. Não é renegar a origem e sim valorizar sua historia.
Ai começam as contradições, por falta desses parâmetros para base. Informação que deveria ser mais trabalhada pelo órgão que visa garantir que os costumes sejam preservados. Trabalhada no sentido de fazer seminários e palestras nos CTG’s, nos próprios rodeios, ou mesmo em escolas ou quaisquer entidades que os recebam!

Um filho só é educado se a educação parte de casa, tendo bons parâmetros e boa base. Assim é com a tradição, só terão bons tradicionalistas se a base for boa, porque defendemos um legado que nem sempre todos vivem tal como qual, por isso dependemos da historia para nos referenciar e se não a conhecemos precisamos que alguém nos oriente.

A traição aos valores defendidos pelo tradicionalismo pode ser involuntária e posteriormente se tornar voluntária. podemos fazer algo errado se não tivermos conhecimento, mas se depois de conhecermos manter o erro passamos a ser conivente levando o que defendemos ao precipício, fazemos parte de uma raça que visa manter seus valores vivos e cometer erros que levem outros a repetirem estes erros é contribuir para a perca de valores dessa cultura riquíssima.

Por conveniência e por rebeldia, também influenciados pelo comercio muitos gaúchos estão misturando as culturas deixando se perder os valores que defendemos como Tradição. Digo rebeldia, porque pra muitos o que vale é sua opinião, vestem o que mais agrada, ou o que mais esta na moda, e fazem as coisas a reveria não querendo se comprometer com regras. Cada cultura tem sua característica e globalizá-las é perder referencias importantes. Não é o fato de aquela ou essa cultura ser melhor, respeitamos todas, alguns parâmetros são inclusive comuns entre si, mas precisamos valorizar e cuidar do que foi regionalizado e difundido por tantos bons gaúchos que já não estão entre nós.

As modas andam invadindo a gauchada mais jovem, sem que CTGs, sem que a própria família intervenha. Bombachas argentinas, uruguaias ganham os gostos dessa gurizada o lenço já não significa mais nada e deixa de ser usado por dentro da gola e passa pra cima dela. Os chapéus são passados com ferro e ficam com vincos parecidos com chapéu de cowboy isso quando não são usados chapéus de palha, proibidos pelo MTG, ou ainda pior, Boinas e bonés.

É fato que o órgão que deve fiscalizar e impugnar tais erros dentro do contexto “tradição” não tem jurisdição em locais públicos como bailes em clubes diversos ou mesmo no dia-a-dia dos gaúchos. Mas como dito anteriormente pode ORIENTAR os atuais gaúchos dos caminhos a seguir.

Devo lembrar que estamos falando de tradicionalismo, ou seja, da regionalização, mas que a cultura gaúcha tem as outras variações e que nenhuma delas deve ser desvalorizada. Defendemos o tradicionalismo como forma de manter viva essa historia construída por nossos ancestrais, mas sabemos que não são regras que fazem um bom gaúcho e sim seu caráter e outros valores como respeito, humanidade, dignidade e acima de tudo amor e apego as coisas do pago, mas uma boa dose de bom senso também ajuda muito.

Por: Luiz César Branco
Colaborador e Pesquisador

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